Confira o trecho que inspirou a ilustração +18
Cheguei em casa tarde, o peso do mundo da Famiglia sobre meus ombros. O dia havia sido um mergulho profundo na escuridão que nos cercava. Trancado em meu escritório, com relatórios de vigilância e diagramas de conexão espalhados pela mesa, as peças do quebra-cabeça finalmente começaram a se encaixar. E a imagem que se formou era mais perigosa do que eu imaginava.
Tudo se conectava. O agente federal desonesto que havia sequestrado Claudia, tentando usá-la contra Vicenzo, não era um peão qualquer. Seu nome aparecia em relatórios de contrainteligência de anos atrás, associado à equipe que monitorava Sabrina quando ela ainda era uma agente federal nos investigando. Ele tinha acesso, ele conhecia nossas vulnerabilidades.
Nossas decisões de nos tornarmos mais “éticos”, o desmantelamento da rede de tráfico humano de Gino que salvou Grace e Claudia, criaram um vácuo de poder. Um vácuo que o cartel colombiano tentou preencher, resultando no confronto por Claudia. A trégua que compramos com eles era frágil, e eles estavam usando esse agente como seu peão em solo americano.
O nome do homem com quem ela estava se envolvendo na Itália surgiu em um dos relatórios criptografados. O mesmo hacker que foi usado para rastrear Claudia e para vazar a informação do ataque na clínica havia, semanas antes, feito uma varredura completa na vida dele. Por quê? Qual era a ligação? A ideia de que minha irmã, tão longe e alheia ao nosso mundo, pudesse estar enredada nesta mesma teia sem saber, me gelou o sangue. Ela não era uma peça aleatória no tabuleiro; de alguma forma, ela havia se tornado uma vulnerabilidade.
O elo final era digital. O ataque cibernético que quase expôs os negócios de Stefano, o rastreamento que levou ao sequestro de Claudia, as informações precisas sobre os horários de Marina que levaram ao atentado na clínica, tudo vinha da mesma assinatura de um hacker de elite.
O agente, nossos inimigos dentro da máfia, o cartel, eles não estavam apenas agindo em paralelo.
Estavam conectados, compartilhando um recurso, uma teia de sombras se fechando ao nosso redor.
Cansado e carregando essa nova e pesada verdade, subi para o meu quarto, buscando o refúgio que havia encontrado nos braços de Marina. Mas, ao abrir a porta, parei.
O quarto estava iluminado apenas por velas. A música que tocava era suave, uma melodia de piano que eu não conhecia, mas que era carregada de uma sensualidade contida. E lá, no centro da nossa cama, estava ela.
Marina.
Seu corpo estava coberto apenas por uma teia intrincada de finas correntes douradas, com pedras, que brilhavam à luz das velas como joias líquidas. Elas delineavam a curva de seus seios, a cintura fina, o monte de Vênus, antes de descerem por suas pernas longas e esguias. A pele pálida dela, em contraste com o metal frio, era uma obra de arte provocadora. Ao seu lado, sobre o lençol de seda preta, havia mais correntes e cordas de seda trançadas em formato de correntes, um convite silencioso.
— Boa noite, Consiglière. — Ela me olhou, e não havia hesitação em seus olhos, apenas uma confiança calma e profunda.
Minha garganta secou. Caminhei lentamente até a cama, meu cérebro ainda tentando processar a transição do perigo estratégico do escritório para a intensidade crua daquela cena.
— Marina, o que é isso? — Ela sorriu, um sorriso que continha todos os segredos do mundo. — Isso sou eu, Matteo. — Ela tocou uma das correntes que cruzava seu torso. — Estou adorando ter você em minha cama, em minha vida, na vida dos meninos. Mas sinto que há uma parte sua que você ainda esconde, uma parte que você acha que eu não aguentaria, ou que me assustaria. — Seus olhos encontraram os meus, sérios e penetrantes. — Quando você me prendeu naquela primeira noite, aqui nesta casa, eu tive medo, sim. Mas também fiquei intrigada. Fiquei fascinada. — Eu não quero apenas o pai e o guardião, Matteo. Eu quero o homem que comanda salas cheias de assassinos com uma única palavra. Eu quero o homem que usa correntes para se sentir no controle, porque seu mundo é feito de caos. Eu quero você por inteiro. Eu te aceito como você é.
Ela se levantou da cama, as correntes emitindo um som musical suave a cada movimento, e parou na minha frente. As palavras dela, a aceitação total e sem ressalvas, foram a chave que destrancou a última porta trancada dentro de mim. A culpa, a punição autoimposta, o medo de que meus demônios a assustassem, tudo se desfez diante da sua oferta. Ela não estava apenas tolerando minha escuridão; estava convidando-a para dançar.
— Mia ballerina, minha Wildflower. — Sussurrei o último apelido para ela, um que eu tinha me obrigado a esquecer, a voz embargada pela emoção. — Você não tem ideia do que isso significa.
— Então me mostre — ela respondeu, os olhos azuis brilhando com uma promessa de rendição que era, na verdade, a forma mais pura de poder. — Me mostre tudo. — Ela pegou minha mão e a guiou até uma das cordas de seda ao lado da cama.